Não dependa dos outros
Dependência de terceiros é arriscado. Veja como evitar ficar na mão em situações críticas.
Talvez você já tenha participado dessa cena. Todos estão se divertindo com um jogo e, de repente, o dono do brinquedo resolve partir, deixando os outros na mão.
O exemplo clássico é do moleque que vai embora levando a única bola de futebol.
Já passei por isso algumas vezes - seja no futebol ou na profissão - e nunca é agradável.
Isso é um exemplo de dependência de terceiros. Como controlar algo que não é controlável?
No caso do futebol, a solução seria ter mais de uma bola. Ou ter certeza de que o moleque não a leve embora quando quisesse.
Nas empresas, isso se traduz em ter alternativas e garantias legais.
Dependência de fornecedores
Algumas empresas buscam controlar várias etapas da cadeia de suprimentos. Esse controle pode se dar de diversas formas, desde aquisição de fornecedores a contratos de longo prazo.
Casos clássicos são das petroleiras e das empresas de papel, que cuidam desde as matérias primas até a industrialização e venda dos produtos.
Esse controle exige um investimento muito grande. Pode, inclusive, prejudicar o foco da sua empresa.
Sendo assim, um fornecedor é a solução mais usual para se ter os componentes da sua solução ou para fazer a próxima etapa do seu ciclo de geração de valor.
Imagine um supermercado. Para certos produtos, como os de padaria, você pode ter controle total da mão de obra e execução. Mas não faz sentido produzir trigo, por exemplo.
O problema é a dependência em pontos críticos. O que acontece com a sua padaria ficar sem farinha?
Comensalismo e ecossistemas
Não sei se você se lembra das aulas de biologia. Animais de espécies diferentes podem ser parceiros. O exemplo clássico é do tubarão, que é acompanhado das rêmoras. Esses peixinhos aproveitam dos restos de comida, sem prejudicar o peixão.
Talvez sua empresa seja uma rêmora, orbitando uma empresa maior. Não há problemas nisso, até porque estamos todos relacionados no mercado, de uma maneira ou de outra. A cadeia alimentar e o capitalismo dependem da relação entre entidades de todos os portes.
Mas você quer ser quem nessa analogia? O tubarão ou quem vive colado nele?
O site Google Graveyard - Killed By Google mostra o cemitério de soluções encerradas pelo Google. No momento em que escrevo, são mais de 200 itens, incluindo apps, sistemas e equipamentos. Imagine se você pensa "ah, o Google é muito grande e estou seguro com ele". Talvez seja o contrário. Grandes empresas são tubarões enormes, prontos para seguir o rastro do sangue. Você, amigo peixinho, vai ficar em segundo plano.
Uma situação um pouco melhor é quando há um ecossistema mais equilibrado, que permita a livre circulação entre várias órbitas.
Se eu fosse um desenvolvedor de temas para sites, por exemplo, ia buscar que eles fossem compatíveis com vários sistemas, em vez de me especializar em apenas Wordpress ou Django, por exemplo.
Quer fazer bem feito? Faça você mesmo.
Há vários anos escutamos sobre as maravilhas da Cloud Computing. Soluções que rodam na nuvem teriam mais escalabilidade, economia e inovação com mínimo esforço de gerenciamento.
Por isso, grande parte dos sites atuais são construídos sobre infraestrutura nas nuvens - seja Amazon AWS, Microsoft Azure ou Google Cloud.
Por isso fiquei surpreso (ou talvez não tão surpreso assim) quando vi que a turma do Basecamp usaria uma solução proprietária, em substituição aos contratos com Google e Amazon. Resultado: uma economia de 7 milhões de dólares em 5 anos.
Cortar a dependência de terceiros, além do benefício econômico, também aumenta o controle sobre a tecnologia e podem até evitar problemas legais.
Quer um exemplo? Diversas startups se dizem empresas com "inteligência artificial" ou AI, mas na verdade são apenas "envelopadores" de outras soluções prontas, como ChatGPT ou Midjourney. O que acontece se esses sistemas falham, fazem uma grande mudança de preços ou são processadas por usar propriedade intelectual de terceiros?
Quem tem um não tem nenhum
E quem tem dois tem apenas um.
Isso significa que você precisa ter alternativas, backups, redundência, recursos extras e planos de contingência.
Por que digo que uma alternativa é muito nada e duas é muito pouco? Porque muita coisa pode dar errado e você precisa ter solução para cada chance de problema.
Veja, por exemplo, como é o sistema complementar de segurança para os paraquedas:
- Paraquedas reserva: O paraquedista tem dois paraquedas—o principal e o reserva, que serve como backup em caso de falha do principal.
- Liberação do paraquedas principal: Se o sistema de acionamento falhar, o paraquedista libera o principal antes de acionar o reserva, usando um sistema de corte.
- Dispositivo de Abertura Automática (AAD): Monitora a altitude e a velocidade de descida, acionando o paraquedas reserva automaticamente se necessário.
- Abertura manual do reserva: Se o AAD não acionar, o paraquedista pode abrir o reserva manualmente puxando uma alça no arnês.
- Treinamento em procedimentos de emergência: Paraquedistas são treinados para reconhecer falhas e executar os procedimentos de emergência rapidamente.
- Verificações pré-salto: Equipamento e dispositivos são verificados antes de cada salto para garantir que estão em condições adequadas de uso.
"O seguro morreu de velho", diz o ditado. Ele teria morrido mais novo, talvez saltando de paraquedas, se não fosse mais precavido.
Se seu negócio não quer morrer, melhor tomar medidas extras de segurança. Não confie 100% em apenas uma opção apenas. As chances de dar errado são muito grandes.
No Brasil, metade das empresas encerram suas atividades antes dos 5 anos, segundo estudo do Sebrae. Ser empresário no Brasil é um esporte arriscado.
Dá para ser independente?
Não consigo pensar em nenhum exemplo em que você seja completamente alheio a outras pessoas ou empresas para seu negócio acontecer. Procure pelo menos minimizar esses riscos, principalmente nas áreas mais críticas.
O que eu procuro fazer:
- Analisar risco de Lock-in: se o projeto usar um recurso fundamental de outra empresa, é preciso entender se você vai ficar preso a essa tecnologia. Essa "prisão" pode ser contratual ou pela complexidade da solução, que te impede de mudar facilmente para uma alternativa.
- Preparar migrações rápidas: vamos torcer para que você tenha um plano B. Nesse caso, é preciso que você consiga trocar o motor rapidamente, com o avião voando, de uma forma tão simples que seus clientes nem percebam. Imagine que você é uma fintech e tenha um único parceiro de processamento. No seu lugar, eu prepararia outras integrações e já deixaria tudo negociado, caso consiga uma negociação melhor ou aconteça uma indisponibilidade.
- Começar fora, depois trazer para dentro: desenvolva seu projeto rapidamente se aproveitando de soluções já existentes no mercado, de forma a ganhar tempo e testar sua ideia. Depois, encontre formas de internalizar a tecnologia. Você pode começar com o ChatGPT, por exemplo, enquanto testa um LLM proprietário e personalizado.